A Festa Das Semanas E Cristo

A Festa Das Semanas E Cristo

pentecostes

Introdução

No calendário litúrgico, temos no dia 23 de Maio a comemoração do Dia de Pentecostes. Sei que não é visto com frequência pessoas que seguem este calendário recordando de cada evento, entretanto, o dia de Pentecostes está petrificado não somente na história do judaísmo, mas também no cristianismo. Cristãos de vertente protestante, tendem a ver o dia de Pentecostes mais como o fato ocorrido em Jerusalém, onde o Espírito Santo veio sobre os apóstolos e os 120 discípulos (Atos 2:1-4), do que a festa judaica.

Porém, quero trazer um pequeno estudo histórico sobre a festa de Pentecoste e adianto que não vou tratar do assunto com base em alguma espécie de “capacitação” espiritual e nem fazer um alongado tratado cristológico. Quero trazer um pouco do contexto histórico, para podermos entender o que aqueles “judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu.” (Atos 2.5), estavam comemorando em Jerusalém.

Histórico

No livro do Êxodo 34:22, “Também guardarás a Festa das Semanas, que é a das primícias da sega do trigo, e a Festa da Colheita no fim do ano”,  possivelmente é a primeira referência a esta festa, na qual o povo de Israel deveria comemorar, a Festa das Semanas (שְׁבֻעָה – Shavuot ou Chag há-Shavuot) ou também chamada Festas da Colheita (Êxodo 23:16). Era considerada a segunda maior festa anual dos judeus. O título desta festa é dado devido a 7 semanas que o povo deveria esperar após a páscoa. Enquanto a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos, eram observadas no começo da colheita da cevada, a Festa das Semanas acontecia 50 dias após a colheita do trigo (Deuteronômio 16:09). Por causa deste fato e da dispersão judaica, os judeus de fala grega atribuíram o nome helênico para esta festa (“πεντηκοστή – pentēkostḗ”) Pentecostes, que significa: o quinquagésimo dia.

Sobre a festa

A Festa das Semanas tinha uma importância elevada, mas era comemorada somente em um único dia. O povo de Israel rendia graças a (יְהוָ֣ה  יִרְאֶה – Yah·weh yir·’eh) Jeová Jiré pelo suprimento das colheitas. A Páscoa recordava o povo que eles possuíam o Deus Redentor e a Festa das Semanas recordava-os do Deus Provedor e Sustentador.

Segundo o livro de Levíticos 23:15-20, podemos verificar que no dia da festa, eram levados ao tabernáculo, além de ofertas de cereais, cordeiros, novilhos e carneiros, pães assados com fermento. Interessante citar que durante a Páscoa o povo comia pães ázimos, ou seja, pão sem fermento, agora na Festa das Semanas pães com fermento. Segundo o historiador Roland De Vaux isto acontece pois:

A festa dos massot ou ázimos marcava o princípio da ceifa da cevada que era feita primeiro. […] durante sete dias se come do pão feito com grãos novos e sem fermento, isto é, sem nada que venha da colheita anterior, um novo começo.  Mas a verdadeira festa das Primícias é a Festa Das Semanas que marca o fim da ceifa do trigo; a festa dos ázimos é só a preparação” (ROLAND…, 2004).

Interessante citar que a primeira Festa Das Semanas que houve, provavelmente ocorreu quando o povo já estava instalado na Palestina e sendo agricultores sedentários, pois agora tinham tempo de fermentar os ingredientes. Segundo alguns estudiosos historiadores, a Festa das Semanas, não era de raiz israelitas, mas foi apropriada de outros povos vizinhos a Israel, possivelmente dos cananeus e isso nos mostra algumas verdades: 1) DEUS de Israel pela sua graça comum abençoa todos os povos; 2) não devemos ser ingênuos ao ponto de acreditarmos que festas e outros ritos de Israel não tiveram influências de outros povos, entretanto, nada muda em relação a verdade bíblica e teológica. Somente após o exílio babilônico, o povo judeu começou a comemorar o pentecoste não como a Festa das Semanas ou Colheita, mas como aniversário da entrega das tábuas da lei a Moisés e da confirmação da aliança no Sinai.

Já para os cristãos, desde a sua iniciação, a Festa de Pentecoste está ligada mais ao fato da efusão do Espírito Santo e da vocação da nova igreja que são todos aqueles alcançados pela graça divina, chamados de Israel de Deus. Agora Deus que havia restritamente falado com um povo no Sinai, fala novamente, porém, a todas as nações confirmando sua nova aliança ao derramar Seu Espírito em toda carne.


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Conclusão

Saber sobre o histórico de eventos bíblicos, pode nos tornar cristãos mais conscientes. Neste sentido, peço que observe a história; temos a festa da Páscoa, que era comemorada por causa da isenção da morte dos primogênitos das famílias de Israel, mediante a intervenção divina e ao sacrifício do cordeiro pascal – Deus Libertador; após algumas semanas temos a Festa das Semanas, o povo comemorava pela colheita – Deus Provedor e Sustentador. Mesmo que esta comemoração deixou de ser por causa da colheita e passar a ser por causa da entrega das tábuas a lei e confirmação da aliança no Sinai, os atributos de Deus não foram menosprezados, mas perpetuamente enaltecidos. E por um fato histórico, todo o Israel de Deus, os alcançados pela graça, sendo de origem israelita ou não, foram inseridos na nova aliança por meio do Deus-Homem, Jesus Cristo; e não por uma coincidência, mas por Sua vontade no dia de pentecoste o Seu Espírito foi derramado, marcando o início de sua igreja. Nas palavras de John Stott:

Não pode haver vida sem O doador da vida, nem entendimento sem o Espírito da verdade, nem comunhão sem a unidade do Espírito, nem caráter semelhante a Cristo sem o seu fruto, nem testemunho efetivo sem o seu poder. Assim como um corpo sem respiração é um cadáver, a igreja sem o espírito é morta. (STOTT…, 2015)

Interessante mencionar que não haveria discipulado Cristão sem o Espírito Santo. Podemos enxergar alguns cenários sobre este evento.  Primeiro,  o Espírito Santo desce sobre os discípulos e os apóstolos corroborando o ato final do ministério de Jesus Cristo,  antes da sua segunda vinda.  Jesus que nasceu ”de uma mulher, sob a Lei” viveu semelhante a nós, pagou com morte os nossos pecados,  ressurge dentre os mortos e é levado ao céu[6], conquista tudo isto e envia seu Espírito para os fiéis. Nesse sentido, o dia de pentecoste nunca poderá ser repetido. Segundo, a descida do Espírito Santo no dia de pentecoste, trouxe aos apóstolos a ferramenta que necessitavam para exercer o seu papel. Antes, Jesus Cristo havia os delegado como suas testemunhas e dando autoridade, prometendo o ministério do Espírito Santo, este que os ensinaria e faria os lembrar dos seus ensinos.  Pentecoste foi o cumprimento desta promessa.

Terceiro, pentecoste inaugura uma nova era, a era do Espírito Santo. Como disse, creio que o acontecimento histórico pentecoste foi único e não haverá repetição, mas agora podemos em qualquer lugar nos beneficiarmos no seu ministério. Observe que os apóstolos são primariamente equipados e eles nos equipam para que sejamos testemunhas também. Embora o Espírito Santo tenha inspirado somente os apóstolos, a sua plenitude é para todos nós.

Quarto,  se levarmos em consideração que reavivamento são as visitações de Deus completamente atípicas e entendermos que nossa consciência se torna temerosa com a proximidade e a presença divina, é possível falarmos que o dia de pentecoste também foi um reavivamento;  observe que há fenômenos físicos, há convicções dos pecados, mais de 3.000 conversões, sentimento de temor e isso pode se caracterizar como reavivamento. Outra coisa a citar aqui é que devemos entender que o vento e o fogo  foram experiências anormais,  assim também como as línguas,  mas a nova vida, alegria, comunhão, culto e a liberdade em Cristo não eram coisas anormais e essas coisas devem ser o foco da igreja atual.

Como a igreja deve agir frente ao dia de pentecoste?

Leia a narrativa histórica de Atos conforme Lucas a escreveu. Ele inicia com a descrição no evento pentecoste e a descida do Espírito Santo; demonstra Pedro cheio do poder do Espírito Santo pregando seu sermão, um avivamento e encerra o seu livro com os efeitos da vinda do Espírito Santo sobre a vida da igreja. Queira isto para sua igreja e persevere na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.


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Referências

BÍBLIA SAGRADA: Nova Almeida Atualizada. [S. l.]: Sociedade Bíblica do Brasil, 2020.

STOTT, John. Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 2015.


Texto de Helton Fernando Rodrigues para Manah Books.

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