Quando descobri que tenho compulsão alimentar percebi que minha relação com a comida não era saudável. Era nela que eu depositava as minhas emoções, fossem boas ou ruins… Era a comida que ocupava meus pensamentos na maior parte do tempo, e era ela também a minha maior inimiga, motivo pelo qual eu constantemente me punia com restrições de forma inconsciente. A comida era um ídolo que eu não sabia como destronar.
Conversando sobre isso com uma amiga, que além de esposa de pastor é psicóloga, recebi um conselho precioso: além do meu tratamento com uma profissional da saúde, eu precisava de aconselhamento e estudo Bíblico, pois eu precisava lidar também com a gula e a idolatria.
Depois da conversa comecei a me perguntar: O que a Bíblia diz sobre alimentação? Deus ainda nos impõe regras dietéticas como no antigo testamento? Como comer de forma que agrada a Deus?
O Propósito De Deus
Tudo que Deus criou foi de forma intencional e maravilhosa para sua própria glória, e isso também inclui a alimentação.
Deus fez o homem de forma que para se manter vivo e saudável precisa respirar, comer e se hidratar, isso mostra que é impossível que sejamos independentes e autossuficientes, sempre precisaremos de algo além de nós mesmos para viver, o mesmo ocorre espiritualmente. Para haver vida espiritual é necessário que a recebamos de Cristo.
Um dos sacramentos instituídos por Deus se dá através do comer e beber. Deus poderia ter escolhido qualquer outra coisa para representar seu sacrifício, mas escolheu o pão para representar seu corpo oferecido por nós e o vinho para seu precioso sangue. É através da Santa Ceia que recebemos vida e anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha.
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No antigo Testamento encontramos leis acerca do que o povo de Israel poderia ou não comer. Em 1953, o dr David Macht da Universidade Johns Hopkins estudou a carne dos animais puros e impuros e relatou que a carne dos animais proibidos apresentam efeitos tóxicos, visto que esses animais têm sistemas digestivos menos eficientes, enquanto os animais considerados puros foram classificados como não tóxicos, pois são herbívoros e têm sistemas fisiológicos melhores.
“Na idade média, quando a peste negra varreu a Europa, os judeus foram muito menos afetados por ela por ainda seguirem as instruções divinas sobre alimentação e pureza.” Russell, What Bible says about Healthy Living, p. 42
Apesar dos benefícios dessas leis, elas não são obrigatórias para os cristãos, visto que foram instituídas para que o povo de Israel compreendesse a separação entre a nação da aliança e as nações pagãs. No Novo Testamento, porém, a barreira da pregação do Evangelho é removida e tantos judeus quanto gentios podem ser salvos e pertencer à família da aliança (At 10:11-28). Com isso, os alimentos impuros são santificados (Mc 7:18-19), pois o que contamina o homem espiritualmente não é o que ele come, mas o que provém de seu coração (Mc 7:21-23).
Isso não significa que devamos ser irresponsáveis sobre o que comemos, devemos ter ciência de que nosso corpo é templo do Espírito Santo e que somos responsáveis por mantê-lo saudável para realizar as obras do Reino.
“Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém. “Tudo me é permitido”, mas eu não deixarei que nada me domine. – 1 Co 6:12
O Primeiro Mandamento
Antes de falarmos da parte prática, quero voltar ao assunto da idolatria.
Vivemos em um mundo que, apesar de ter sido criado por Deus e para Deus, sofre os efeitos da queda.
O homem é naturalmente um ser religioso, está sempre em busca de algo para prestar louvor. Por mais que a sociedade moderna aparentemente tenha “se livrado” de todos os deuses e religiões, ainda assim podemos encontrar deuses falsos no coração de cada pessoa, seja o dinheiro, fama, família, a política, o “eu” e até mesmo a comida. Já dizia João Calvino: “O coração do homem é uma fábrica de ídolos”.
O primeiro dos dez mandamentos (Êxodo 20) é: “Não terá outros deuses além de mim”. Ídolo é basicamente qualquer coisa que ocupe o lugar de Deus em nosso coração.
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Quando fazemos da comida o nosso deus, deixamos que ela domine nossos pensamentos, desejos e humor. Passamos a encontrar nela refúgio para as nossas aflições e uma boa casa para acomodar nossas alegrias. No entanto, como qualquer tirano, enquanto o entregamos nossa vida e anseios com devoção, ele afia sua faca e nos prende a correntes, não somos capazes de escapar das consequências.
Jesus morreu para sermos livres da tirania do pecado e vivamos uma vida de liberdade e obediência no Espírito Santo.
“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.” – Gálatas 5:1
Se você, assim como eu, identificou esse ídolo em seu coração, é tempo de se arrepender! Ore ao Senhor que te ajude a vencer esse pecado, que Cristo seja o Senhor do seu coração e que Ele te dê força para não mais se submeter ao jugo da escravidão! Apegue-se à verdade de que foi para a liberdade que Cristo já nos libertou.
Como Comer Para A Glória De Deus
Vimos que Deus se importa com a nossa alimentação e que ela revela o quanto dependemos dEle. No entanto, Deus não se importa apenas com o que comemos, mas também com como comemos.
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” 1 Co 10:31
Assim como qualquer outra ação que fizermos, a forma como nos alimentamos deve trazer glória ao Senhor.
Vejamos 3 pontos essenciais para que a nossa alimentação glorifique a Deus:
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1. Devemos ter Domínio Próprio.
Diversas vezes na Palavra encontramos o pecado da gula associado à rebeldia, negligência e idolatria.
“Não vos façais pois idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar.” – 1 Co 10:7
Provérbios 23:21
Pois os bêbados e os glutões se empobrecerão, e a sonolência os vestirá de trapos.
Salmos 106:14
Dominados pela gula no deserto, puseram Deus à prova nas regiões áridas.
Em gálatas 5, Paulo faz um contraste entre as obras da carne e as obras do Espírito.
” Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: (…) Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” (Vs 19-22)
Sabemos que um dos dons do Espírito na vida do cristão é o domínio próprio (temperança). Isso se aplica às diversas áreas da nossa vida, e não exclui a nossa relação com a comida. Se queremos andar no Espírito, precisamos nos despir das obras da carne, dentre elas, o apetite desordenado.
2. Mordomia: Cuidando Do Nosso Corpo e Alimentação
“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos?” 1 Co 6:19
O corpo que temos foi criado por Deus de forma maravilhosa (Salmo 139) e somos responsáveis pelo seu cuidado, não o entregando aos desejos da carne.
Em Êxodo encontramos um mandamento muito mais abrangente do que costumamos pensar: “Não matarás”. O Sexto mandamento não se refere apenas ao homicídio, mas ao nosso dever de preservá-la, conforme nos explica o Catecismo Maior de Westminster:
Resposta 135: Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões[…] uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono […]. Resposta 136: Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, […] o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém.
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Dessa forma, devemos agir como mordomos e cuidar do nosso corpo e saúde, porque pertencemos ao Senhor.
“A alimentação é a fonte de todo nutriente e energia para seu corpo, através dele você tem o desenvolvimento e manutenção do corpo por completo. Para exercer uma boa mordomia cristã você deve ser prudente sobre o que vai oferecer de alimento para o seu corpo.” *Citação de Clara Costa, nutricionista pela UFPE.
3. Devemos Ser Gratos Com A Alimentação
“É o Senhor que faz crescer o pasto para o gado,
e as plantas que o homem cultiva,
para da terra tirar o alimento: o vinho, que alegra o coração do homem;
o azeite, que lhe faz brilhar o rosto,
e o pão, que sustenta o seu vigor.” Salmos 104:14-15
Todas as coisas nos são dadas pela providência de Deus. No entanto, muitas vezes perdemos isso de vista e damos lugar à murmuração e ingratidão.
Paulo nos ensina, ao advertir sobre falsos mestres, que os alimentos foram criados por Deus para “serem recebidos com ação de graças pelos que crêem e conhecem a verdade.” (1 Tm 4:3).
Precisamos nos lembrar constantemente de que o Senhor tem nos sustentado e suprido todas as nossas necessidades, nos dando muito mais do que merecemos.
Antes da próxima refeição pare um instante e reflita sobre a graça abundante do Senhor e seu cuidado com as pequenas coisas de cada dia. Tente traçar todo caminho que a sua comida percorreu e pense em quantas pessoas estão envolvidas nesse processo até que esse alimento chegasse ao seu prato e pudesse te nutrir em mais um dia comum. Ore pelo alimento e pelas pessoas envolvidas em cada etapa. Com certeza após esse momento de reflexão o seu interior se encherá de gratidão e humildade.
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Júlia Fávari
Vida cristã, feminilidade e teologia.
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