A Relação Entre Leitura E Vida Cristã

A Relação Entre Leitura E Vida Cristã

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Será que os cristãos precisam ler livros ou esta é uma atividade desnecessária para a vida cristã? Entendamos que a leitura não nos redime/salva, mas contribui positivamente tanto para nossa edificação espiritual e pessoal quanto para a edificação da Igreja de Cristo no mundo.

1. A leitura é boa e necessária para todas as pessoas, mas não é capaz de redimi-las

Ler livros afeta diretamente nossa maneira de pensar, agir e sentir. Quantas vezes já choramos lendo a Bíblia, mudamos nosso comportamento quando confrontados por uma verdade exposta numa frase e raciocinamos de modo diferente a partir de certos autores e textos que chegaram até nós? Nas sociedades alfabetizadas, então, a leitura é um recurso imprescindível para o desenvolvimento humano. Sendo assim, o cristão que aprendeu a ler com cuidado, senso crítico e paixão também poderá se tornar uma pessoa melhor. 

No entanto, há indivíduos ou grupos que não aprenderam a ler – neste caso, por falta de oportunidades educacionais, econômicas e sociais –, e também há aqueles que não gostam de ler – por desinteresse pessoal. Bem, se a Bíblia Sagrada (composta por Antigo e Novo Testamentos), é a bússola do cristão, revelação divina e testemunho sobre quem é Deus e quem nós somos, então, é importante que nossas igrejas locais eduquem e incentivem seus membros à leitura bíblica. Com isto, tais igrejas poderão atuar no âmbito educacional e social, contribuindo para o processo de humanização e, também, para o crescimento espiritual dos crentes.

A leitura não redime o ser humano do pecado, da justiça e do juízo. Ela não nos faz espiritualmente superiores em relação àqueles que não leem. Somente Cristo é capaz de nos redimir, através da justificação pela fé através da graça. Sendo assim, analfabetos que creem em Cristo também herdarão o reino dos céus. No entanto, se a capacidade humana de pensar, agir e sentir, proporcionada pela leitura, é uma dádiva concebida graciosamente pelo Deus Criador, então, é um equívoco menosprezarmos a leitura ou não incentivarmos políticas públicas a fim de promovê-la como força capaz de potencializar nossa humanidade.   

2. A leitura contribui positivamente tanto para a edificação espiritual e pessoal do cristão quanto para a edificação da Igreja de Cristo no mundo

Se, enquanto cristãos, temos condições de ler produções literárias, então estamos diante de um privilégio e de uma missão. Imaginemos um navio mercante em alto mar, repleto de suprimentos alimentícios para uma população que se encontra numa situação de vulnerabilidade econômica e social, localizada do outro lado do Atlântico. Os marinheiros sabem que, se não chegarem a tempo, pessoas poderão morrer. Apenas os profissionais dotados de conhecimento e prática em seus ofícios conseguirão cumprir a tarefa. Caso contrário, o navio poderá se atrasar ou sequer chegar ao seu destino. Façamos aqui um paralelo com a vida cristã, pessoal e em comunidade. A leitura, assim como o conhecimento e a prática ou a habilidade profissional, não redime a humanidade de seus pecados, mas é um presente do Criador para que consigamos realizar nossos projetos e cumprirmos nossa vocação cristã com mais objetividade, disciplina, contentamento e liberdade.

Mas, qualquer leitura serve para nós, cristãos? Obviamente que não. A Bíblia Sagrada, por nos apresentar Jesus Cristo e a história da salvação, deve ser nossa bússola. Se a perdermos, ficamos desorientados ou estaremos sob a direção dos ídolos e de mecanismos não-cristãos. Assim, a vida cristã exige leitura e prática bíblica diária, constante. Mas, não uma leitura bíblica desatenta, interesseira, manipuladora, que faz uso dos textos bíblicos de acordo com conveniências pessoais, institucionais e políticas. Mas, sim, uma leitura bíblica comprometida e apaixonada somente por Cristo e, consequentemente, por sua Igreja, pelas pessoas e pelo mundo em que vivemos.  

Neste caso, apenas a leitura bíblica é suficiente para a edificação espiritual do cristão? Sim; ainda que para nossa formação pessoal e profissional necessitemos, também, de outras literaturas. Se estivéssemos numa ilha deserta e tivermos acesso apenas ao Evangelho de João ou à Carta aos Romanos, por exemplo, seria o suficiente para conhecermos as doutrinas básicas da fé cristã. No entanto, Deus quer uma ilha povoada de pessoas que leem e conversam entre si sobre o que leram, dialogando de maneira prazerosa, mas também, árdua, pois, o reino de Deus é um reino de amigos que leem a vida e a história – inclusive, através dos livros – a partir de Cristo.


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A leitura de livros nos conecta com várias pessoas, tempos e espaços. Ela pode nos levar a pensar sobre novas possibilidades de sermos igrejas saudáveis em épocas de crise, liga-nos com as dores de missionários perseguidos pelos campos do mundo, tira-nos da zona de conforto e nos convida às mudanças de hábitos, dentre outras coisas. Deus capacitou, e ainda capacita, com seu Espírito Santo, homens e mulheres, de diversas épocas e lugares, povos e línguas, para compartilharem, através da escrita, suas impressões sobre o que a Bíblia propõe enquanto novidade de vida. Não menosprezemos tais servos de Deus, que dedicam anos e anos, décadas e décadas de suas vidas em estudos minuciosos, árduos e alegres em prol da glória de Cristo e da edificação da Igreja! 

Tendo a Bíblia como bússola e o Espirito Santo como vento favorável que guia nossa embarcação, poderemos chegar ao nosso destino. E aqueles que navegam com Cristo não temem outras leituras, as ditas não-cristãs, mas aceitam que muitas delas contribuem para o crescimento humano – quem é que capacitou o ser humano para ler, escrever, sonhar e amar, a não ser Cristo? Aqueles que estão em Cristo reconhecem, no entanto, que algumas leituras não serão úteis para a vida cristã, pois, assim como há livros que são como belas paisagens que não podem deixar de serem contempladas, há livros que reforçam a escuridão de nossos olhos durante uma tempestade. Mas, como discernir entre eles? Retenhamos o que é bom, sob a orientação da Palavra e do Espírito.

Dessa maneira, para uma vida cristã inteligente, prática, intencional e adoradora, leiamos. Dez minutos diários dedicados à leitura de bons livros poderá nos ajudar a perceber a liberdade cristã como nunca havíamos imaginado, até então. Certamente, boas leituras, especialmente as bíblicas, ajustarão nossas doutrinas, organizarão nossas práticas e educarão nossos corações, contribuindo, assim, para uma verdadeira piedade baseada numa verdadeira humanidade conformada à Cristo.


Fábio Mendes

Graduado em Teologia e em Ciências Sociais,

Mestre e doutor em Letras

Instagram: @fabiomendes7

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